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Dívida vs Dashboard Fluxo de Caixa: Defina-os Aqui I Gesplan

06 Fevereiro 2018

Não que alguém espere algo diferente de nossos governantes, mas logo nos primeiros dias de 2018 já vimos, estampadas nas manchetes dos principais jornais, mais uma tentativa do governo de burlar uma das principais diretrizes (no caso, LEI, passiva de Impeachment) criadas para “frear” a quase insaciável disposição de governos em gastar, mesmo que não seja o melhor para a população.

regra de ouro

Mas o foco aqui é que, diferentemente de outras políticas e discussões fiscais e econômicas, muito mais técnicas e de difícil entendimento para quem não está familiarizado com os assuntos (juros, câmbio, inflação, etc.), é que a tal da Regra de Ouro se aplica (ou se aplicaria) tanto para as finanças das famílias, como também é muito importante que seja conhecida e aplicada nas finanças de qualquer empresa.

Mas, vamos entender melhor…

Afinal, o que é a Regra de Ouro?

O termo Regra de Ouro tem origem em escritas antigas e sua essência é encontrada em praticamente todas as religiões:

 

 “Esta é a suma do dever: não faças aos demais aquilo que, se a ti for feito, te causará dor”. − Mahabharata (5:15:17)
– Hinduísmo (Cerca de 300 a.C.)

 “O que é odioso para ti, não o faças ao próximo. ” − Talmude, Shabbat 31ª
– Judaísmo (Cerca de 200 d.C.)

“Portanto, tudo que quereis que os homens vos façam, fazei-o também a eles”. − Jesus no Sermão da Montanha Mateus 7:12[9]
– Cristianismo (Cerca de 30 d.C.)

 

Não, não pretendemos pregar ou abordar qualquer tema religioso em um texto sobre finanças, mas às referências acima quanto à origem da expressão “Regra de Ouro” deixam claro um princípio:

Não faça às outras pessoas (ou gerações, nesse caso) o que não gostaria que fizessem com você (ou a sua geração)

E na política, por que essa regra existe?

Simples, a “Regra de Ouro” diz que o governo deve “tomar” dívida apenas para investir, ou seja, utilizar o dinheiro de forma a beneficiar as gerações futuras, enquanto as despesas correntes devem ser pagas com os impostos já existentes.

Caso essa “Regra” não existisse, nossos governantes poderiam simplesmente se endividar ao máximo para utilizar o nosso dinheiro em ações populistas e de curto prazo (algo que nos lembra principalmente os anos de eleição…), enquanto a conta chegaria apenas nos próximos governos, e quem pagaria seriam as próximas gerações.

Então, sem “financês”, o que realmente é a Regra de Ouro?

De forma conceitual, a Regra de Ouro diz respeito à política fiscal, e estipula que os governos não podem se endividar para pagar despesas correntes, ou seja, contas essenciais para manter o funcionamento da máquina pública, como serviços, salários, insumos, entre outros.

Um paralelo com finanças pessoais e finanças corporativas

Como dito no início do artigo, a Regra de Ouro não é importante apenas porque está em sermões religiosos ou é aplicada pelos governos, ela se aplica diretamente às finanças pessoais e corporativas.

Imagine que uma família tenha um salário fixo e todas as suas despesas correntes caibam nesse rendimento, essa família consegue pagar escola, água, luz, condomínio, gasolina, entre outros gastos, sem precisar recorrer à bancos.

Agora imagine que essa família decida se mudar para uma casa maior, ou ampliar um negócio. Muito provavelmente não teriam dinheiro suficiente para esses investimentos (que trariam retorno, benefícios futuros) e precisariam recorrer à empréstimos para poder dar esse passo.

Esse movimento é o que a Regra de Ouro diz ser “permitido”, e o que as principais diretrizes de finanças dizem ser aceitáveis, se endividar para investir, para trazer benefício futuro. Por outro lado, uma segunda família possui despesas maiores do que seus rendimentos e recorre ao cartão de crédito para pagar despesas correntes em um mês.

No próximo mês, além do salário não cobrir o básico, terão também que pagar os juros do cartão de crédito e para isso, recorrem ao banco para conseguir um empréstimo. Não precisamos continuar para saber que a história não vai acabar bem, certo? O que no início era uma despesa corrente à ser paga no período, virou despesa corrente MAIS despesas financeiras, um ciclo vicioso e sufocante para qualquer conta corrente.

Dívida vs Geração de Caixa: E para as empresas, qual a relação?

Assim como para o Governo e para as famílias, a Regra de Ouro também se aplica às empresas.

Ao não conseguir pagar despesas como aluguel, luz, seguros, salários, etc. com a sua própria geração de caixa, o caminho natural dos administradores e gestores financeiros é a busca de empréstimos.

Assim como para as famílias, no período seguinte, além de ter que novamente arcar com os gastos operacionais citados, a empresa adicionará também ao seu fluxo de caixa o pagamento do empréstimo e dos seus juros, que também serão destacados no DRE da empresa na linha de Despesa Financeira.

A correta gestão dos passivos financeiros é uma das maiores preocupações de qualquer gestor, ainda mais considerando as características do mercado Brasileiro, com altas taxas de juros e complexos contratos para serem calculados, acompanhados e projetados para o planejamento da empresa.

Dentre os principais indicadores de alavancagem e endividamento, é muito comum que analistas utilizem o Dívida Líquida/EBITDA, onde:

(i) Dívida Líquida: Dívida total da empresa, subtraídas as disponibilidades e aplicações.

(ii) EBITDA: Sigla em inglês para lucros antes de impostos, depreciações e amortizações que, de forma simplificada, podemos considerar como a geração de caixa operacional.

Dividindo a dívida líquida pela geração de caixa, podemos de forma simples avaliar a alavancagem da empresa, ou em outras palavras, entender a capacidade da empresa de gerar caixa para pagar a sua dívida, sem recorrer a mais dívida.

Na maioria dos relatórios de analistas de empresas, um múltiplo Dívida Líquida/Ebitda de até 3x é considerado “aceitável”, a partir desse nível já é possível verificar preocupações quanto à capacidade das empresas de gerarem caixa para pagar o seu endividamento, consequentemente penalizando-as através de menores avaliações de valor de mercado.

Para citar exemplo de aplicação prática, na época do maior pedido de recuperação judicial da história do Brasil, em 2016, a empresa de telecomunicações OI possuía Dívida Líquida/Ebitda de mais de 4,8x, contribuindo assim muito para a decisão tomada na época.

regra de ouro

Pouco tempo depois de ventilar a possibilidade de flexibilizar a “Regra de Ouro”, o governo voltou atrás e desistiu da manobra por total falta de apoio à medida.

Assim como no desfecho (até então) do governo, as famílias e empresas devem tentar a todo custo também manter a regra, sem flexibilização. Entre as possíveis medidas à serem tomadas, analistas citam frequentemente os desinvestimentos (venda de plantas, máquinas, etc.) e readequação da realidade de gastos (redução de folha salarial, aluguel, etc.).

Sendo assim, podemos concluir que a medida serve para o Governo, serve para as famílias e serve para as empresas. O endividamento para gastos correntes pode parecer a única saída a curto prazo, mas, sem dúvida, cobrará seu preço.

 

SOBRE O AUTOR
Rodrigo Ferreira
Gerente de relacionamento  da Gesplan.
Formado em Comércio Exterior, com MBA em Gestão Financeira pela FGV, atua na área de Finanças Corporativas há 10 anos. Possui Especialização em Finanças, Investimentos e Banking pela PUC, Certificação de Especialista em Investimentos, CEA – ANBIMA e CPA-20 – ANBIMA.

 

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